Um depoimento de adoção tardia emocionou as pessoas presentes na solenidade de abertura da Semana da Adoção realizada no Plenário 2 do Tribunal de Justiça de Mato Grosso no início da noite desta segunda (21 de maio). Uma moça, que não chegou a revelar sua identidade, contou o quanto sofreu com a rejeição da mãe biológica e de pais adotivos e o quanto foi feliz quando encontrou um lar e não foi mais devolvida. Ela contou ainda que a mãe de sangue era uma mulher de programa que não tinha pudor em se prostituir na sua frente e que um dia a deixou na Casa de Amparo. Ela contou ainda que por conta de tudo que passou se tornou uma criança rebelde e que fazia de tudo para testar a paciência dos pais adotivos.

"Tinha medo de me apegar afetivamente a eles e ser novamente devolvida. Quando fiquei sabendo que o juiz tinha dado sentença favorável à minha adoção fiquei muito feliz. Hoje sou realizada porque tenho uma mãe que me dá todo amor e educação", afirmou a adolescente.

O campanha é uma iniciativa do Poder Judiciário, por meio da Comissão Estadual Judiciária da Adoção (Ceja), em parceria com o Governo do Estado, Assembleia Legislativa e ONGs como a AMPARA. "A Semana da Adoção tem o objetivo de sensibilizar a sociedade e também visa combater o preconceito da adoção de crianças maiores e especiais e orientar sobre os primeiros passos do processo", afirmou a secretária-geral da Ceja, Elaine Zorgetti.

Dados revelam o tamanho do preconceito em relação à adoção de crianças que não se encaixam no biotipo da criança branca e pequena. Segundo dados do Estado, hoje existem 68 crianças e adolescentes aptos para a adoção em Mato Grosso e 401 pessoas aptas a adotar, mas não adotam porque querem crianças menores de quatro anos. O presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Rubens de Oliveira Santos Filho, presente na solenidade, observou que quando uma pessoa se predispõe a adotar não deveria escolher o biotipo."Porque é a convivência que vai fazer o amor aflorar", observou.

O presidente da Ceja e corregedor do Tribunal de Justiça, desembargador Márcio Vidal, salientou que o evento, realizado anualmente, tem conscientizado e despertado a sociedade para o problema social. "As pessoas vão desamarrando as garras de um egoísmo social, porque adotar é um ato de solidariedade com o próximo, é comprometimento de amor e carinho para que essas crianças e adolescentes não se sintam indesejados e não se tornem marginalizados", pontuou.

Segundo ele, em 2011 foram proferidas 118 sentenças de adoção, enquanto que, de janeiro até 18 de maio deste ano foram 98 decisões semelhantes. "No ritmo que está, vamos superar o resultado do ano passado", prevê.

O promotor Paulo Prado, titular da Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa da Criança e do Adolescente e a secretária de Trabalho e Assistência Social do Estado, Roseli Barbosa, ressaltaram que a parceria com o Judiciário está sendo muito importante e gerando bons frutos. Prado também parabenizou o magistrado por se preocupar com que as crianças não fiquem eternamente no abrigo.

"A infância marca profundamente a vida de uma pessoa e o quanto é triste passar por esta fase tão importante sem ter um pai ou uma mãe, ou sem qualquer referência familiar",observou.

A programação da Semana da Adoção conta com diversas atividades entre palestras, debates, audiência pública e concurso de redação e vai até sexta (25 de maio), Dia Nacional da Adoção. No primeiro dia de evento foi distribuída cartilha ensinando o passo a passo da adoção e apresentada a peça publicitária da campanha "Adotar é Legal", que será divulgada nos meios de comunicação neste mês de maio.